A embaixada da Venezuela pediu uma reunião ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após o presidente e o Itamaraty fazerem críticas ao processo eleitoral no país. Diplomatas venezuelanos em Brasília telefonaram para o Palácio do Planalto na quarta-feira 27 para solicitar um encontro, segundo confirmado por Veja.
Espera-se que o assessor especial da Presidência Celso Amorim se reúna com o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, nos próximos dias, mas o encontro ainda não tem data precisa.
Brasil endurece o tom
Na quarta-feira, quando ocorreu o telefonema, o Ministério das Relações Exteriores havia emitido uma nota expressando “preocupação” com o processo eleitoral na Venezuela. O período de inscrição de candidaturas nas eleições do país chegou ao fim à meia-noite de segunda-feira marcado por controvérsias, incluindo o impedimento do registro à candidata Corina Yoris, que passou a representar a oposição a Nicolás Maduro, após ser indicada pela vencedora das primárias María Corina Machado, inabilitada a concorrer pelo Supremo.
“Esgotado o prazo de registro de candidaturas para as eleições presidenciais venezuelanas, na noite de ontem, 25/3, o governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país”, diz o documento do Itamaraty. “Com base nas informações disponíveis, observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitária, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial”.
Já nesta quinta, Lula disse que considerou “grave” Yoris não ter conseguido registrar sua candidatura.
Maduro revida
Em resposta ao posicionamento do Itamaraty, o governo de Nicolás Maduro publicou na terça-feira 26 uma nota acusando o governo Lula de ecoar a política de ingerência externa da Casa Branca, e dizendo que sua manifesta preocupação sobre dificuldades impostas à oposição no processo eleitoral da Venezuela “parece ter sido ditada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.
Os venezuelanos afirmaram ainda que o posicionamento brasileiro era intervencionista e “nebuloso”.
Denúncias da oposição
As eleições venezuelanas estão agendadas para o dia 28 de julho, e os candidatos tinham até a última segunda-feira, 25, para registrarem seus nomes no pleito. Naquele dia, o partido de Yoris e María Corina, a Plataforma Unitária Democrática, denunciou que “nunca” teve acesso ao sistema de candidaturas na plataforma online do CNE desde que o processo foi aberto em 21 de março.
“Informamos à opinião pública nacional e ao mundo que temos trabalhado o dia todo para tentar exercer o nosso direito constitucional de nomear o nosso candidato, mas não foi possível”, disse um dos líderes da coalizão opositora, Omar Barboza, em comunicado em vídeo.
Por Amanda Péchy / Veja
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